Tem gente que faz parecer o desapego tão fácil, que até brincadeira de criança chega a parecer difícil. Obviamente, não posso dizer que já cheguei a dominar essa arte, pois passo bem longe dela com certa frequência. Desde que eu consiga lembrar das minhas memórias, é assim que funciona. Um brinquedo poderia estar todo velho e quebrado, mas não me desfazia dele. Eu tinha um bicho de pelúcia que não largava para nada e nenhum outro parecia ser bom o suficiente para substituí-lo, não importava o quão antigo estivesse.
Nos relacionamentos isso perdurou e ficou ainda mais intenso. Nunca soube e continuo não sabendo dizer adeus às pessoas; sempre sofro muito quando tenho que me despedir, seja temporariamente ou de forma definitiva, meu sofrimento permanece igual. Tudo isso por causa do apego que parece não me largar nem por um segundo.
Enquanto para algumas pessoas ficar longe por um tempinho é necessário, quão mais próxima eu estou daqueles que eu amo, mais feliz e amada eu me sinto de volta. Nem adianta fazer um esforço para ser de outro jeito, pois praticar o desapego parece simplesmente impossível pra mim. Às vezes eu até queria me importar menos, não dar tanta atenção para quem não é recíproco e fingir que carrego o título de “a maior desapegada da década”, só que do mesmo jeito que sou apegada em excesso, sou igualmente exagerada.
Passei muitas vezes na fila do apego e devo ter roubado um pouquinho da cota das outras pessoas que estavam atrás de mim, senão não seria tão apegada assim. Já me aconselharam que quando você deixa algo livre, é quando você mais sabe se há reciprocidade, mas para isso eu teria que trocar de nome e recomeçar tudo outra vez. A esperança para dominar de vez o desapego é a última que morre, no fim das contas. Isso, ou é claro, eu morro antes de chegar lá.