O Sindicato dos Profissionais da Educação de São João Batista (Sindieducar) emitiu um artigo aos professores sobre o atual momento educacional, em meio à pandemia da covid-19. O texto foi publicado nesta semana, no site da entidade.
Na íntegra, com quatro páginas, o artigo intitulado “Educação Infantil e Pandemia”, analisa o papel da educação e dos professores. Baseado em literatura acadêmica que parte de importantes premissas, para demonstrar que o ensino nas creches é medida de extrema importância, e não podem ser desprezado, nem mesmo em tempos de pandemia.
Segundo a entidade, como recurso alternativo, para alunos de Pré ao 9º ano, a Secretaria Municipal de Educação de São João Batista optou pelo meio digital, promovendo atividades online, à distância.
Para a entidade, no que se refere à creche, esse é também um caminho possível. “Muito embora as atividades desenvolvidas no ensino infantil não apresentem alta carga de conteúdo, existe a possibilidade de, adaptando o plano pedagógico sugerido para o modelo presencial, construir um novo plano possível com a utilização do recurso online”, destaca o presidente do Sindieducar, Deivid Herartt.
Inteirado de toda a situação,visando atender a questionamentos de pais e professores, foi protocolado na Secretaria de Educação no dia 5 de agosto, o oficio 3/2020, requerendo a retomadas das atividades com urgência, das professoras efetivas de creche, para lecionarem, ainda que de modo on-line.
Para o presidente, “com a chegada da pandemia, surge a necessidade de reconfigurar as metodologias de ensino e aprendizagem de modo a preservar os elementos fundamentais da educação. Para isso, é essencial a elaboração de um plano que viabilize, sem perder o contato entre educador e aluno, uma continuidade das atividades escolares. E com as creches não pode ser diferente”, descreve.
Leia abaixo, o artigo nas íntegra
EDUCAÇÃO INFANTIL E PANDEMIA
A IMPORTÂNCIA DOS EDUCADORES PARA A PRESERVAÇÃO DE UM VÍNCULO
SINDICATO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DE SÃO
JOÃO BATISTA SANTA CATARINA – SINDIEDUCAR/SJB
Agosto/2020
É notável, com tudo que vem acontecendo nos últimos meses, a necessidade da
elaboração de novas estratégias para os processos de ensino e aprendizagem. A
impossibilidade de sustentar a modalidade presencial implicou na busca pelo recurso online, e
certamente o maior desafio dessa nova configuração de ensino é o de preservar os elementos
fundamentais de uma aprendizagem saudável, coerente com os objetivos da educação.
Partindo disso, é importante se ter claro quais objetivos são esses. Educar vai muito
além do ensino de conteúdos determinados por um plano pedagógico, assumindo papel
significativo no desenvolvimento pessoal da criança. O vínculo entre educadores e alunos é
essencial quando se refere a esse aspecto da educação.
A questão do vínculo se constitui em torno de um eixo importante da experiência
humana: o afeto. No curso do desenvolvimento humano, a construção afetiva se inicia no
âmbito familiar, onde a criança encontra a possibilidade de criar os primeiros laços com o
mundo.
Quando chega à escola, ainda creche, a criança dá continuidade ao processo e continua
a estabelecer vínculos fundamentais, agora com educadores e outras crianças. No
artigo intitulado de “Educação escolar e constituição do afetivo: algumas considerações a
partir da Psicologia Histórico-Cultural”, Gomes e Mello (2011) discutem a importância da
elaboração afetiva em processos escolares.
Seguindo a mesma linha elaborativa, os educadores representam um eixo
importantíssimo na construção desse vínculo. Exercendo não simplesmente a função de
transmitir conhecimentos, os educadores são responsáveis por mediar os diversos processos
que surgem em sala de aula (BULGRAEN, 2010).
Mas, por que esse vínculo é tão importante? Ou melhor dizendo, por que uma relação
saudável com a escola (instituição que, em sala de aula, é representada pelos educadores) traz
benefícios para o desenvolvimento das crianças?
Em primeiro lugar, existe o fato de que a primeira infância é um período crítico na
construção relacional das crianças para com o mundo. Conforme a Epistemologia Genética de
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Jean Piaget (1975), as estruturas do desenvolvimento seguem certa periodicidade, dividindo
os primeiros anos de vida no que denominou “estágios de desenvolvimento”. A primeira
infância representa os dois primeiros estágios de Piaget, e representa o período em que a
criança produz as primeiras formas de relação com o mundo. Esse processo, deixa claro
Piaget, é natural do desenvolvimento humano. Proporcionar os estímulos adequados para que
tal processo ocorra bem é essencial para o desenvolvimento infantil.
As implicações disso expressam a necessidade, por parte da escola, de promover um
ambiente potencial para que as crianças possam desenvolver (na terminologia de Piaget) suas
estruturas cognitivas. Para isso, deve ser preservada a relação entre a criança e seu educador,
elemento indispensável na consolidação de uma educação saudável na primeira
infância (GAULKE, 2012).
Tendo em vista a situação atual (especificamente, a necessidade do distanciamento
social), torna-se evidente a importância da elaboração de estratégias que viabilizem a
continuidade desse ambiente.
Como recurso alternativo, as escolas optaram pelo meio digital, promovendo
atividades online, à distância. No que se refere à primeira infância, esse é também um
caminho possível. Muito embora as atividades desenvolvidas no ensino infantil não
apresentem alta carga de conteúdo, existe a possibilidade de, adaptando o plano pedagógico
sugerido para o modelo presencial, construir um novo plano possível com a utilização do
recurso online.
Uma possibilidade é a elaboração de atividades lúdicas. É um engano se pensar no
lúdico como brincadeiras soltas, quando na verdade atividades de natureza lúdica exercem um
papel fundamental nos movimentos de aprendizagem da criança. A utilização de recursos
lúdicos é, sem dúvida alguma, um auxílio indispensável em metodologias de ensino na
educação infantil (DALLABONA, 2004).
A elaboração dessas atividades é importantíssima no plano pedagógico de qualquer
instituição, sobretudo na educação infantil. Essa elaboração, vale ressaltar, deve ser produzida
pelos educadores da própria instituição, visto que eles estão em contato com as crianças e,
portanto, reconhecem suas necessidades e formas subjetivas de aprender.
Para melhor compreender essa questão, pode-se recorrer ao estudo de Susanna
Mantovani (1999) em que são feitas reflexões a respeito do papel de educadores em creches.
Dentre os principais desafios encontrados nessa prática profissional, destaca-se a construção
de um relacionamento afetivo que permita a criança desenvolver segurança emocional. Quer
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dizer, se os próprios educadores das creches relatam tal desafio, é de se concluir a importância
que a proximidade entre educador e criança apresenta na dinâmica escolar.
Portanto, a elaboração de atividades voltadas para educação infantil requer não só o
conhecimento sobre desenvolvimento infantil e de pedagogia no geral, mas, sobretudo, o
conhecimento das crianças às quais são direcionadas tais atividades. A subjetividade de cada
criança implica na necessidade de se ter atenção individualizada, de modo a garantir sentido
ao material produzido e, assim sendo, tornar possível uma educação consistente e coerente
com seus objetivos fundamentais.
Retomando as reflexões de Mantovani (1999), é de se questionar a respeito
do como essa segurança emocional da criança é construída. Relações escolares não são
impessoais, e, portanto, a condição de educador não implica somente em mediar os processos
de aprendizagem. O papel de educador na educação infantil se fundamenta a partir do vínculo,
e para isso o contato entre ele e seus alunos é necessário.
Esse educador, vale lembrar, não pode ser qualquer pessoa. Quando a criança entra em
sala de aula, ela encontra, antes de qualquer coisa, um sujeito, e é com ele que esse vínculo
passa a se constituir. Pela via online, não é diferente. A produção de material (vídeos,
atividades lúdicas, contos) deve ser realizada pelos educadores das crianças, e não por outros
professores. A manutenção da continuidade desse contato é o primeiro passo para garantir
uma experiência educacional rica e de acordo com as bases fundamentais da educação
infantil.
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Referências
BULGRAEN, Vanessa C. O papel do professor e sua mediação nos processos de elaboração
do conhecimento. Revista Conteúdo, Capivari, v. 1, n. 4, p. 30-38, 2010.
DALLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Schimit. O lúdico na educação
infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de divulgação técnico-científica do
ICPG, v. 1, n. 4, p. 107-112, 2004.
GAULKE, Alvine Genz. A relação professor-aluno-conhecimento na Educação Infantil:
princípios, práticas e reflexões sobre protagonismo compartilhado. 2012.
GOMES, Cláudia Aparecida Valderramas; MELLO, Suely Amaral. Educação escolar e
constituição do afetivo: algumas considerações a partir da Psicologia HistóricoCultural. Perspectiva, p. 677-694, 2011.
MANTOVANI, Susanna. Uma profissão a ser inventada: o educador da primeira
infância. Pro-posições, v. 10, n. 1, p. 75-98, 1999.
PIAGET, J. Os Pensadores: A epistemologia genética. Sabedoria e Ilusões da Filosofia,
1975