Já quis ser alguém que eu não era, mais de uma vez. Mais descolada, menos deslocada, afinal, um pouco de sarcasmo não cairia mal. Já pensei que devia imitar uma risada ou contar a mesma piada que me contaram, pois fazer os outros rirem também parecia ser bacana. Passei em frente a lojas e comprei roupas que no fundo eu não queria usar, mas se a mídia dizia que aquilo era estilo, quem seria eu pra dizer o contrário? Cortei o cabelo, mudei a cor também, me virei do avesso até parecer que daquela vez estava finalmente bom.
Mudei não por mim, não por- que eu queria aquelas mudanças, mas porque em algum lugar diziam que aquilo era o certo. E quem seria eu para tentar ser o errado? Ouvi que ser tímida, além de cafona, sugeria que você era um grande problema. Pessoas que não sabem se enturmar não tem vez, nem voz, nem nada. Então, eu tentei de novo ser diferente.
Parecia normal tentar moldar peça por peça para caber no quebra-cabeça social, só que ninguém me contou o quanto precisaria abrir mão de mim mesma no processo. Por um tempo achei que era disso que eu precisava, pois somente assim conseguiria um espaço no meio de tudo aquilo; de todos aqueles ao meu redor.
Até que, em determinado momento, ser quem eu sempre quis ser foi o que falou mais alto. O preço de não ter minha própria personalidade era alto demais a pagar. Aí passei a fazer somente o que eu achava que devia, e nada poderia ter me deixado mais leve do que isso. No fim das contas, as dores e alegrias de ser quem você é, cada um sabe bem. Que bom que não abro mais mão das minhas.