Dácio Marcelo Adão, 42 anos, é natural de São Paulo, capital. Há 23 anos, escolheu deixar a cidade grande, com seu ritmo acelerado e frenético, para recomeçar a vida em São João Batista, Santa Catarina, reconhecida como a Capital Catarinense do Calçado.
A história de Dácio não parecia seguir o caminho que o levaria à profissão de sapateiro. No entanto, o destino traçou uma jornada inesperada e transformadora. Hoje carrega com orgulho mais de duas décadas dedicadas à arte de fabricar calçados.
Antes de chegar à cidade batistense, Dácio trabalhava em São Paulo como entregador de panfletos para uma escola militar. O trabalho exigia viagens constantes, já que a instituição realizava palestras em diversas cidades. “Eu vinha antes para fazer a divulgação. Certa vez, o destino me trouxe até São João Batista”, recorda.
Era pouco depois do meio-dia, e ele já estava com fome. Enquanto entregava panfletos nas proximidades da Avenida Deputado Valério Gomes, parou para pedir a indicação de um restaurante. “O nome dela era Dona Norma. Ela me disse: ‘Querido, acabei de almoçar, mas tenho comida pronta. Você quer ir lá em casa almoçar?’”, relembra sorrindo. Durante o almoço, conversaram bastante e, no fim da refeição, Dona Norma lhe fez um convite que mudaria sua vida: vir morar em São João Batista, pois havia uma oportunidade de emprego.
De volta a São Paulo, Dácio ficou com aquilo na cabeça por duas semanas. Até que decidiu aceitar o convite. Com uma mala de roupas e uma televisão de tubo, embarcou rumo à cidade que se tornaria seu novo lar. “Cheguei e aluguei uma garagem no bairro Carmelo. Nos fundos, havia um bar com cancha de bocha. Para dormir era complicado, pois tinha bastante barulho”, conta.
Um episódio marcante foi o da televisão que trouxe da capital paulista. “Era 110 volts e aqui é 220. Quando coloquei na tomada, queimou na hora. Fiquei só com a mala de roupas”, diz, entre risos.
Poucos dias depois, em 4 de outubro, saiu para procurar emprego. Foi então que o saudoso empresário Maurino Cim, da fábrica Bárbara Kras, lhe ofereceu uma vaga. “Trabalhei lá por 11 anos. Comecei como grampeador, depois lixador, passador de cola e, por fim, encarregado”, relata com orgulho. Em apenas dois meses, já havia conseguido alugar um espaço melhor para morar e dar continuidade à nova fase da vida.
Após encerrar o ciclo na Bárbara Kras, Dácio passou a trabalhar na Via Scarpa Calçados, onde atuou por sete anos e aprendeu o ofício da modelagem. Atualmente, há cinco anos, exerce o cargo de gerente no setor de montagem da Camminare Calçados, também no bairro Carmelo. “O calçado sempre me deu oportunidades. Foi graças à profissão de sapateiro que construí uma nova história. Saí de casa aos 19 anos, deixei minha família em São Paulo e apostei nesta terra”, afirma emocionado.
Com o passar dos anos, Dácio viu a trajetória inspirar outros membros da família. “Depois vieram meus dois irmãos. O Teodoro Adão, que hoje é vereador na cidade pelo segundo mandato, e o Hebert, que atualmente trabalha na Costa Rica. Ambos também começaram como sapateiros. Depois trouxemos nosso pai. Só a mãe ainda não veio, mas quem sabe um dia ela vem”, recorda, com o olhar esperançoso.
Orgulhoso da profissão que transformou sua vida, Dácio reconhece que o setor calçadista foi o alicerce de seu crescimento pessoal e profissional. “A profissão de sapateiro me enche de orgulho. Foi através dela que conquistei tudo o que tenho. Hoje o sustento da minha família vem desse trabalho, que exerço com dedicação há 23 anos”, afirma.
Mais do que um ofício, a fabricação de calçados representa para Dácio uma história de recomeço, coragem e amor pelo que faz. De entregador de panfletos na capital paulista a gerente em uma indústria calçadista em São João Batista. A trajetória simboliza o espírito trabalhador e resiliente de tantos homens e mulheres que fazem da cidade um verdadeiro polo de talento e determinação.



