Cristiéle Borgonovo
A cidade de São João Batista comemora 67 anos de emancipação política em 2025, e com ela se entrelaçam as histórias de quem ajudou a construir, com trabalho e fé, a identidade da Capital Catarinense do Calçado. Entre os moradores que testemunharam as transformações do município está Luiz Gon, 76 anos, residente no distrito de Tigipió, no interior batistense. Natural do bairro Salto, em Nova Trento, Luiz chegou há meio século ao município, movido pelo amor e pela vida simples que aqui encontrou.
Foi na juventude que conheceu a futura esposa, Neide Terezinha Batista Gon. Por três anos, enfrentou as longas e esburacadas estradas de chão em sua lambreta para visitá-la. Com o casamento, construiu ao lado da companheira a casa em Tigipió, onde formaram a família com três filhos: duas mulheres e um homem. “A família dela tinha comércio, e precisava da ajuda da filha no dia a dia. Viemos para ficar e nunca mais saímos”, recorda Luiz, com um sorriso nostálgico.
A mudança coincidiu com os primeiros sinais de progresso no interior. “Naquela época era tudo muito difícil. O acesso era precário, a eletricidade tinha chegado há pouco tempo, não havia telefone, mas eram tempos de tranquilidade”, relembra. Um dos momentos marcantes da época foi a construção da nova capela de São Sebastião, no coração do bairro. “Lembro da antiga capela, era muito bonita também. Quando cheguei, estavam terminando a nova. Foi especial viver isso. ”
Católico fervoroso, Luiz tem na fé um dos pilares de sua vida. Há 34 anos, atua como Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, missão que abraçou com dedicação. “Poder entregar o Corpo de Cristo aos fiéis é uma graça. Isso me enche de alegria”, afirma. Além disso, guarda com carinho as lembranças de quando frequentava a Comunidade Bethânia, fundada há 29 anos pelo Servo de Deus Padre Léo. “São João Batista ganhou um lugar de acolhimento e restauração. Visitei muitas vezes enquanto Padre Léo estava vivo, e cada encontro era uma bênção. ”
Luiz criou raízes em solo batistense
Viúvo há mais de 20 anos, recebeu convites insistentes dos irmãos e familiares para se mudar e morar mais perto deles, em outras cidades. Recusou. “Já tinha criado raízes aqui. Fiz amigos, criei minha família, e não quis sair. Aqui é o meu lugar”, diz com convicção.
Ao longo dessas décadas, viu o Tigipió deixar de ser um vilarejo isolado para se transformar em um bairro estruturado. “Antes a gente vivia da plantação de fumo. Depois veio o aipim, as farinheiras, o aipim de mesa. O telefone foi uma revolução. A linha vinha de Major Gercino e passava por uma central que distribuía para outras casas. Depois chegaram os celulares, a internet… Tudo mudou.”
Hoje, o distrito conta com comércios, escola, creche, posto de saúde nos bairros vizinhos, a Intendência e até cooperativa de crédito, o que dispensa o deslocamento ao centro da cidade. “A vida aqui ficou mais fácil. Melhorou muito. Tudo o que precisamos temos por perto.”
Nos olhos de Luiz, que ainda observa o vai e vem das pessoas da janela de casa, está guardada a memória viva de um tempo que não volta, mas que moldou o presente. Ele é um dos tantos rostos que fazem São João Batista ser o que é: uma cidade de fé, trabalho e raízes profundas.
“A vida aqui ficou mais fácil. Melhorou muito. Tudo o que precisamos temos por perto.”