Cristiéle Borgonovo
A história de vida de João Fomento Filho, 82 anos, faz parte das memórias de Tigipió. Por mais de 50 anos, exerceu com amor e dedicação a função de coveiro do Cemitério da Capela de São Sebastião, no interior de São João Batista. Aposentado, João registra sua trajetória e compartilha fatos históricos do local.
Ele conta que o primeiro coveiro do cemitério em Tigipió foi Joaquim Marcelino, conhecido como Quinca, quando São João Batista ainda pertencia a Tijucas. Após falecer, o filho Constâncio Marcelino, assumiu a profissão. Na sequência, Eliseu Silvestre ocupou a vaga, mas acabou desistindo.
Para fazer parte da comissão da igreja, João Bernardo Fomento, pai do entrevistado, resolveu assumir a função de coveiro em 1955. “Como eu era o filho mais velho, ao lado do meu irmão íamos ajudar o pai. Meu irmão demorou um pouco e mudou de profissão, mas eu permaneci até o pai falecer em 1962”, recorda.
Entre risos, João brinca ao contar que, quando garoto, tinha medo de ir ao cemitério, pois antigamente contavam-se muitas histórias de terror e assombração. No entanto, após a morte do pai e já familiarizado com o trabalho, assumiu a vaga, onde ficou até a aposentadoria, em 2007. No auxílio do pai e exercendo a profissão, foram 52 anos como coveiro; como titular, 45 anos.
E ainda lembra da primeira pessoa que enterrou: uma senhora que morava do outro lado do rio. Como não havia ponte, o caixão vinha em uma bateira que atravessava as águas. Sem carro e sem serviços funerários, todos vinham em procissão, e os caixões eram feitos de madeira, em casa. “Nós cavávamos direto na terra. O buraco tinha sete palmos, não havia carneira, era direto na terra”, diz.
No início, também não havia salário para o coveiro. No Dia de Finados, ele colocava uma mesa, um caderno e lápis. As pessoas passavam e pagavam uma contribuição anual. “Não era só fazer o enterro; nós limpávamos, pintávamos o muro, capinávamos e plantávamos flores ao redor. Algumas famílias pagavam todos os anos, mas havia aquelas que nem passavam perto da mesa”, revela.
Para sustentar a família, além de coveiro, João atuava na agricultura, com plantio e criação de animais para o consumo. Foi apenas na gestão de Celso Narciso Cim, o Celsinho, prefeito de 1989 a 1992, que sua carteira foi assinada e ele passou a receber um salário mensal.
Outro fato que chamou a atenção é que ele guardava as certidões de óbito de todas as pessoas que enterravam.