Cristiéle Borgonovo
Limpar e polir calçados para lhes deixar um ‘brinco’. Foi essa a primeira profissão do batistense, João Batista da Conceição, 64 anos, o João Bandeira. Ele era um garoto de 12 anos. Tinha como ponto de trabalho a Rua Nereu Ramos, próximo a antiga loja Retalhão. Ele recorda que trabalhavam em cerca de dez pessoas e atendiam aos mais abonados que passavam pelo lugar. Os horários próximos ao das missas eram sempre de muito movimento.
O morador do Centro, recorda que depois de engraxate, foi vendedor de verduras e picolés. Mas o calçado voltou a fazer parte da história do dia a dia de João. Começou a trabalhar na empresa calçadista de Nino Mara, lá era o ‘onça’. Era assim que chamavam o aprendiz nas fábricas de calçados. Aprendeu o ofício de cortador manual, onde exerceu a profissão por cinco anos.
Também trabalhou na fábrica de calçados de Alcides Cipriani e Nelson Mazera, também na Moacir Zunino e Fernando Clemes, em meados dos anos 80. Foi então que se inscreveu e participou de uma entrevista para estudar em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Passou e com as despesas pagas por meio de uma bolsa foi se aperfeiçoar no universo calçadista. “Lá nós aprendemos em teoria e prática toda a construção do calçado”, recorda.
Ao retornar para São João Batista recebeu o convite para atuar em um cargo de chefia onde era responsável por toda a parte de cabedal. Trabalhou por três anos. Mudou-se para Camboriú, no Litoral Norte, onde atuou em uma fábrica calçadista com foco exclusivo na produção de tênis.
De sapateiro a professor
Em uma das vindas a São João Batista soube que o Senai faria uma prova para recrutar professor no curso de costura. “Eu fiz a prova e passei em primeiro lugar. A minha especialização em Novo Hamburgo mais a experiência profissional foram fundamentais para que eu fosse bem na prova e passasse na primeira colocação”, destaca Bandeira.
E foi no Senai que trabalhou por 16 anos. Como professor ensinou centenas de pessoas a se tornar um profissional de excelência de 1985 a 2001. Afinal, São João Batista, com o fechamento da Usati em 1991, a cidade precisava se reinventar, e foi com foco no calçado que a economia voltou a girar.
Mas, após quase três décadas atuando no ramo do calçado, seja como engraxate, sapateiro ou professor de costura, resolveu mudar de profissão. “Estava cansado, desisti do calçado e fui ser caminhoneiro, foram três anos, tentei de várias formas, mas não consegui me adaptar a profissão”, revela.
Retornou ao setor calçadista. Na Contra Mão Calçados, atuou por cerca de um ano. Em 2005, Laudir Kammer, o Alemão o convidou para integrar a equipe da Via Scarpa Calçados, para ser o responsável pelo setor de cabedal, no qual aceitou. Em 2020, em plena pandemia se aposentou, porém não parou de trabalhar.
João Bandeira há 18 anos trabalha na Via Scarpa no qual confessa que não pretende parar. “Tenho uma rotina e estou acostumado com ela, aqui trabalhamos, nos entretemos. Não consigo me imaginar parado, pois tenho muitos amigos e me sinto realizado na profissão”, conclui.