Malcon Gustavo Tonini – Professor e Mestre em História
Antes de qualquer ação do Estado Imperial com relação à ocupação, povoamento e colonização, o Vale do Rio Tijucas, não passava de um Distrito de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Uma região que até a criação da Vila de São João Batista, em 1838, ficou a mercê da própria sorte.
O Império passa a dar importância para essas terras, com a eminência de uma Revolução contra o governo regencial, que acaba ocorrendo como prevista, em 1835, na então Província do Rio Grande do Sul e se estendendo para Santa Catarina. Com a abdicação deD. Pedro I, em 7 de abril de 1831, assume o governo brasileiro, a Regência Trina, que nomeia Diogo Antônio Feijó como Ministro da Justiça. Esse fato, foi fundamental para que hoje, possamos contar a história, que protagoniza João de Amorim Pereira, como fundador do Vale do Rio Tijucas.
Em 1831, três anos antes da chegada do Capitão Amorim em terras próximas ao encontro do Rio do Braço com o Rio Tijucas-Grande, o Pe. Feijó, homem forte do regime que recém assumira o governo brasileiro, iniciava sua atuação como ditador legal. Sua principal missão era a de manter a ordem pública, sufocando motins e revoltas, mantendo a ordem a todo custo. Sua atuação influenciou diretamente a vida de Amorim e daqueles que habitavam as margens do Rio Tijucas.
A Guarda Nacional é criada pelo Pe. Feijó, composta inicialmente por homens de famílias influentes e com renda entre 100 a 200 mil réis anuais. Nesse processo, muitos títulos de alta patente foram adquiridos por homens que nunca haviam participado diretamente de atividades militares. Os membros da Guarda Nacional combateram na Revolução Farroupilha, durante a regência, e estiveram em outros episódios beligerantes durante o Período Imperial e início da República. A Guarda perdurou até 1922, mas manteve sua influência sobre a política brasileira nos anos posteriores, inclusive em Santa Catarina.
Ser membro da Guarda Nacional era sinônimo de prestígio e importância política. Ser Capitão do que no futuro seria o exército brasileiro, era ser uma pessoa destacada e respeitada pela sociedade oitocentista. Nascido em Desterro, o militar João de Amorim Pereira, aos seus 35 anos em 1819, já era Alferes do lendário Regimento Barriga Verde. O Capitão Amorim e outros militaresque serviram em Santa Catarina, nos tempos de D. Pedro I,passam a ser relacionadospara atuarem na Guarda Nacional na região do Vale do Rio Tijucas no ano seguinte. Esse regimento a mando de Feijó inicia o processo de ocupação das margens do Rio Tijucas, iniciado em 1834, sob o comando do militar de mais alta patente. João de Amorim Pereira inicia o cumprimento de suas ordens, dando início ao que seria a colonização do Vale do Rio Tijucas assistida pelo Estado brasileiro.
Nesse período histórico, outros militares se estabeleceram na região com o tempo, e justamente por servirem aos interesses da soberania nacional, receberam lotes do Império para compensar sua dedicação. Sob a tutela de Amorim, entre tantos nomes, se estabeleceu o Capitão Barriga Verde, Manoel Teixeira Brasil, que a partir de 1840, muito serviu a administração colonial de São João Batista, como delegado, inspetor escolar e Juiz de Paz, por muitos anos. Em 1881, após a transferência de São João Batista para Tijucas, Domingos Correia de Amorim, que dá nome a uma localidade do interior do município, é nomeado Capitão da Guarda Nacional, passando a ter grande influência na região.
São João Batista, e todo o Vale do Rio Tijucas, ao longo do século XIX,receberam combatentes na Guerra dos Farrapos e também outros que serviram em outras regiões do país, como Pedro Steil, mercenário alemão, que se alistou em 1828, como soldado do Império brasileiro, serviu em Pernambuco e posteriormente se afazendou em 1856, onde hoje é Canelinha.