Meados de abril. “Fique em casa”. Uma rotina nunca vista, nunca ouvida em época alguma. Quebrando projetos, trabalhos, fechando escolas, igrejas e até mesmo nossa intimidade doméstica na mais total ausência de abraços, beijos, sem nenhum direito de tossir, espirrar e proibindo fazer visitas.
Aquelas propostas em forma de gentilezas: “Apareça lá em casa” nunca mais foram ouvidas.
Quem não gosta de receber amigos em sua casa, por mais simples que seja?
E assim, neste deserto quase apocalíptico, o mundo está só. Ninguém nasce para ser só. Somos uma constante busca de contatos, de ideias, encontros. Isto fere toda a humanidade.
Preso dentro de si mesmo, precisa encontrar-se consigo e acreditar que voltará ao direito de tossir, espirrar, mentir, falar besteiras, passear ao encontro dos próximos segundos, como novidades surreais. E lembrar das alegrias em visitar, fofocar, ter febres, sair de casa, ir à praia, voltar ao trabalho, à escola, bater uma bolinha ali na quadra sem medo de adoecer e, tragicamente, morrer. Até parece as mais retrógadas pragas do Egito, como tanto ouvimos falar.
Estas realidades virarão ficção, onde qualquer roteirista cinematográfico em um tempo não distante desenhará um final feliz. Onde todos se convidarão ao abraço fraterno de uma humanidade farta de saúde, sonhos, amores, vencendo seus limites em busca de mais cuidados, mais belas e fortes emoções.
Vozes ao vento, cantando na liberdade de arrancar suas máscaras, em caminhadas nunca imaginadas nesta terra que chamamos de “nossa casa”.
Abrindo as esperanças de uma vacina chamada “amor”, fonte de vitais energias, sabendo que o céu é o limite e as estrelas, luzes em nossas sombras.
Temos saudades de boas notícias entre umas e outras “Apareça lá em casa”.
Sejamos nós mesmos as melhores notícias. Uma forma de imunizar a tristeza.