Juliano César
O Brasil é, atualmente, o maior produtor de café do planeta. E esse título foi conquistado através de décadas de trabalho árduo de agricultores nas lavouras, dos pesquisadores empenhados no desenvolvimento de cultivares mais resistentes a pragas e doenças, e pela qualidade de bebida que muitas vezes é referência mundial em qualidade.
Mas o café é muito mais do que um produto commoditie de exportação e a procura por safras especiais (micro-lotes) vem aumentando significativamente, principalmente aqueles com diferencial de produção, seja no durante ou pós colheita dos frutos.
Apesar de atualmente ser desconhecida, a importância econômica da cultura do café para Santa Catarina está estampada inclusive em sua bandeira, criada em 1895, onde o ramo impresso representava as lavouras encontradas na região litorânea do estado. Muitos agricultores ainda lembram e resgatam em suas memórias o cultivo de café em sistema sombreado em Santa Catarina, onde inclusive, comerciantes europeus reconheciam a qualidade da bebida. Após a erradicação dos cafezais a partir da década de 60, o que sobrou foram produções de café apenas para o consumo das famílias, na grande maioria das propriedades e por um longo período o cultivo ficou adormecido nas pequenas propriedades.
Em Canelinha não foi diferente. Existiam grandes áreas de cafezais espalhados por todos os bairros, que inclusive chegou a abrigar uma indústria de torrefação localizada no centro da cidade, o Café Canelinha, de propriedade da família do ex-prefeito Antônio Moraes, em atividade de 1948 a 1977. “A torrefação foi pioneira, por realizar o serviço de beneficiamento aos produtores em troca dos preciosos frutos de café de toda a região” destaca o engenheiro agrônomo e vereador de Canelinha, Thiago Vinícius Leal. Ele é o responsável por esse projeto na região e, desde 2019, sonha para que novamente Canelinha e região estejam em evidência com essa cultura.
Pesquisa
O potencial de produção de cafés especiais no sistema agroflorestal do litoral catarinense foi tema de pesquisa recente do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Com isso, se verificou os aspectos climáticos e avaliações qualitativas dos grãos que são produzidos na região litorânea, ratificando positivamente nosso potencial de produção de cafés especiais.
Além disso, projetos em parcerias com a Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) já foram tratados para encaminhamento de pesquisas sobre o cultivo na região, através do Centro de Ciências Agrárias – CCA.
Objetivos
O intuito deste projeto não é a implantação de grandes lavouras pelos produtores, mas sim pequenas lavouras espalhadas por todo município, com possibilidades de expansão para o Vale do Rio Tijucas, já que o cultivo de café não era exclusivo de Canelinha. “O melhoramento genético das lavouras, trazendo cultivares mais resistentes a pragas e doenças, tecnologia de adubação, plantio, condução, colheita e principalmente o pós-colheita praticados hoje possuem um grande abismo em relação a outras épocas, melhorando em muito a qualidade”, analisa Leal.
Resgate
Neste sentido, o resgate do café como opção de cultura aos pequenos agricultores de Canelinha e região, se torna viável, desde que se aplicado corretamente a tecnologia desenvolvida para a produção e beneficiamento de cafés especiais em sistema sombreado. “Mais uma opção de diversificação na pequena propriedade, voltada na exploração do micro-clima local e as particularidades inerentes ao processo. Além disso, o consorciamento com outras frutíferas e essências florestais pode ajudar ao agricultor a monetizar culturas diferentes em um mesmo espaço de cultivo e o apoio das instituições como a Universidade Federal de Santa Catarina, Instituto Federal de Santa Catarina, Epagri e Cidasc, são fundamentais para o sucesso deste resgate”, revela o engenheiro agrônomo.
De acordo com ele, o mercado nacional e internacional está em constante procura por produtos diferenciados. “E Canelinha e região possuem o solo, microclima local e saber-fazer únicos e característicos, além de produtores que podem entregar um produto de qualidade aproveitando os nichos de mercado que se abrem aos passos da inovação”, conclui.
Em um futuro muito próximo, a criação de uma identidade visual e marca regional serão fundamentais para que a região do Vale do Rio Tijucas seja conhecida como polo de produção de cafés especiais no litoral de Santa Catarina, fomentando inclusive caminhos para o turismo rural.
Aos produtores que tem interesse nessa opção de diversificação e gostariam de implantar lavouras testes em suas propriedades, podem conversar diretamente com o engenheiro agrônomo Thiago Leal pelas redes sociais:facebook.com/thiagovinicius.leal/ – instagram: thiago_v_leal
Foto: Isadora Manerich