Ana Ayres
“A base dos ensinamentos budistas são as 4 Nobres Verdades: a verdade do sofrimento, a verdade da origem do sofrimento, a verdade da cessação do sofrimento, e a verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento. Ao estudarmos a primeira Nobre Verdade, vemos a questão de dukka *, de que felicidade e sofrimento são inseparáveis da existência cíclica. Na segunda Nobre Verdade, constatamos que todas as situações são construídas, são artificiais. A terceira Nobre Verdade aponta para a possibilidade de transcendermos essas situações: podemos ultrapassar a existência cíclica de nascimento, sustentação da vida, decrepitude e morte.
A quarta Nobre Verdade ensina o caminho para a liberação, o Nobre Caminho de Oito Passos, que começa com a motivação correta e prossegue com a redução do impacto do sofrimento sobre os seres. A seguir, ampliamos nossa capacidade de ajudar os seres e desenvolvemos as habilidades de meditação. Dentro dessas habilidades, vamos até o ponto de compreender a natureza ilimitada de todos os fenômenos, internos e externos.
Toda a explicação teórica está no nível que chamamos de visão. Precisamos transformar cada um desses itens em uma forma de meditação, pois existe uma distância entre entender uma coisa e conseguir transformar essa compreensão em algo vivo na nossa experiência de mundo. Essa é a função da meditação. Quando a meditação estabiliza a compreensão, tornando-a viva como uma prática em nível de corpo, energia, mente e paisagem (ou mandala), passamos para a terceira etapa, da ação.
Tendo compreendido e praticado os ensinamentos nos três níveis, os conteúdos continuam os mesmos, mas agora, quando pensamos na primeira Nobre Verdade (sofrimento), não pensamos mais de forma teórica. Passamos a ter uma experiência imediata, incessante. Não pensamos: “oh, que pena isso, que pena aquilo!” para a partir daí elaborarmos pensamentos até o ponto de podermos entender de forma mais profunda. Quando estamos no nível da ação, tão logo as situações surgem, brotam de forma natural a compreensão correta e a sabedoria de como agir adequadamente.
Lembro de meu mestre, Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche, que, por uma natural humildade, dizia: “Sou como um vaga-lume. Essa luz se acende e se apaga, se acende e se apaga.” Se ele, que era um mestre com reconhecida sabedoria e prática, se achava um vaga-lume, o que diremos nós ? Somos como velas de natal, que só se acendem uma vez por ano. Mas ele afirmava: “Existem mestres que são como faróis, que tem a luz incessantemente acesa, orientando a todos os seres.” Só ouvir isso já nos conforta e nos deixa felizes, porque prova que é possível. Com corpo ou sem corpo, existem faróis incessantemente ligados, servindo de referencial para todos nós.
Esse foi um exame resumido do caminho em seus três níveis. Tudo o que formos aprender no budismo estará em algum ponto desse roteiro.”
*palavra em sânscrito que não tem um termo correspondente nas línguas do Ocidente, mas trata-se de algo como alegria e sofrimento inseparáveis.
PADMA SAMTEN é lama budista. Fundou e dirige o Centro de Estudos Budistas Bodisatva, em Viamão, RS e também em Canelinha, SC. O templo do CEBB Mendjila fica na rua Regina B. Clemer, número 2400, no Bairro India. Este Templo foi inaugurado em 02 de novembro de 2015.
Em virtude da Pandemia, estamos mantendo os encontros de estudos, meditações e cursos, on line. Se quiser participar, será uma alegria, por favor, entre em contato conosco para receber o link de acesso . Contato whatsapp: 48 9 9161-0545
Que muitos seres possam se beneficiar!