Em menos de uma semana de interrupções das atividades industriais, o setor calçadista de São João Batista gerou mais de 1,2 mil demissões, o que representa um custo aproximado de mais de R$ 2 milhões. Os dados foram repassados pelo Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista (Sincasjb).
Desde segunda-feira, 23, as indústrias do setor calçadista do município pararam as atividades após um acordo coletivo entre a entidade patronal e o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Calçados (Sintrical).
Entretanto, a paralisação também do comércio, com fechamento de shoppings e lojas, em menos de seis dias, gerou pedidos de prorrogações e devoluções à indústria calçadista no valor estimado de R$ 339 milhões.
Além disso, diante da necessidade de priorização da folha salarial frente a inadimplência e prorrogações, as indústrias precisaram também prorrogar o pagamento dos fornecedores num valor aproximado de R$ 180 milhões.
O presidente do Sincasjb, Almir Manoel Atanázio dos Santos, avalia que a paralisação da indústria e comércio foi como tirar o Brasil da tomada. “Agora para religar a máquina será bastante difícil. Já iríamos sentir o reflexo da pandemia, mas com a paralisação, piorou ainda mais, é só observar o índice de desemprego gerado em poucos dias”, diz.
Ele ressalta que o desemprego será ainda maior, pois o comércio deverá demitir para conseguir se manter ativo. “É algo muito triste a falar, mas São João Batista e o país terão uma recessão muito forte”, afirma.
Dias difíceis
Santos entende que a pandemia do coronavírus deu uma depressão na economia. Contudo, a indústria tem agido por uma boa causa, sabendo da gravidade da doença. “Mas em nossa visão, enquanto entidade, a parada foi precoce, e trará consequências econômicas muito grandes. São João Batista vai sofrer um caos e as pessoas precisam se preparar”, frisa.
Por isso, o presidente orienta à população a não gastar dinheiro com coisas desnecessárias e guardar para passar o maior tempo possível. “Vamos viver um tempo de guerra nos próximos dias. Serão 90 dias tristes, mas vamos ter que passar por isso. É hora de todos darmos as mãos para essa retomada e juntos sairmos dessa crise, que talvez tenha sido a pior crise mundial já vivida”, destaca.
Retomada lenta
O Sincasjb tem buscado apoio junto à Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), para conseguir recursos para injetar na economia local e retomar o crescimento da economia.
Além disso, o Poder Público Municipal tem contribuído com a indústria, e decretou, na terça-feira, 24, situação de emergência em São João Batista. “Isso já vai ajudar as empresas em relação à questão jurídica e protestos de duplicatas”, diz Santos.
Para o presidente, seria importante que a contenção do coronavírus fosse feita em duas semanas de quarentena. “Assim poderemos juntar os cacos e retomar a economia. Mas vejo que será um processo lento, e se sairá melhor que está bem psicologicamente, bem em relacionamentos com colaboradores, fornecedores e clientes, porque o atual cenário nas empresas é de pedidos para entregar ou em produção cancelados”, informa.
Situação de emergência
O prefeito Daniel Netto Cândido explica que o decreto de situação de emergência no município complementa o plano de ação local de combate à Covid-19. “Esta medida permitirá ao município ter mais agilidade em questões operacionais caso haja um surto da doença na cidade. Temos trabalhado muito para que isto não aconteça, e, até o momento, com a colaboração de todos, temos conseguido. No entanto, precisamos estar preparados para qualquer cenário”, diz.
O decreto permite, por exemplo, a requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, com pagamento de indenização justa, e a dispensa de licitação para aquisições que sejam necessárias para enfrentar a pandemia.
E, também, a simplificação nos procedimentos para eventuais prorrogações de contratos, parcerias e convênios que vençam durante o período de vigência da situação de emergência.